Fungos de samambaias gigantes e do solo da remota Ilha de Trindade viram alternativa para produção de pesticida natural

Fungos de samambaias gigantes e solo vulcânico viram alternativa para pesticida natural Fungos encontrados na Ilha de Trindade, ponto mais distante e isolado d...

Fungos de samambaias gigantes e do solo da remota Ilha de Trindade viram alternativa para produção de pesticida natural
Fungos de samambaias gigantes e do solo da remota Ilha de Trindade viram alternativa para produção de pesticida natural (Foto: Reprodução)

Fungos de samambaias gigantes e solo vulcânico viram alternativa para pesticida natural Fungos encontrados na Ilha de Trindade, ponto mais distante e isolado do litoral brasileiro, são alvo de pesquisas sobre o combate a ervas daninhas em lavouras. Cientistas descobriram que esses organismos têm potencial para virarem pesticidas naturais, agentes que controlam os invasores nas plantações, mas sem prejudicá-las. O estudo é desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Ministério da Agricultura dos Estados Unidos. As espécies de fungos analisadas são encontradas em uma floresta de samambaias gigantes que existe no ponto mais alto de Trindade e em um solo vermelho único formado na ilha próximo ao que um dia já foi um vulcão. 📲 Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp 🏝️ A Ilha da Trindade fica a 1.160 quilômetros da costa e é uma Área de Proteção Ambiental (APA). O acesso é controlado e restringido pela Marinha, e o local abriga até 46 pessoas, entre militares e pesquisadores, que ficam períodos de alguns dias até 4 meses. Para chegar à ilha são 4 dias de viagem em um navio de guerra da Marinha. 🌊 A ilha faz parte de uma cadeia de montes submarinos vulcânicos chamada Vitória-Trindade, que termina na Ilha de Martin Vaz. Juntas, Trindade e Martin Vaz formam o arquipélago da Ilha da Trindade e Martin Vaz. O local abriga grande biodiversidade e possui espécies que só existem lá. A pesquisa teve início a partir de uma visita do professor de microbiologia da UFMG, Luiz Henrique Rosa, à ilha, em 2016. Luiz revelou ao g1 que o que chamou sua atenção para escolher fungos em pontos tão distintos está ligado ao processo de adaptação desses organismos em cada um desses ambientes, que pode criar substâncias diferentes que ajudariam na composição de pesticidas. "Como o solo da ilha é único, a gente tem uma comunidade única associada a esse solo. Essa comunidade está adaptada a viver ali. E a planta a mesma coisa. Essa espécie de samambaia está isolada geograficamente há muito tempo na ilha. Então, pode ter uma comunidade de fungos que vive dentro dela, capaz de sobreviver dentro do tecido vegetal, que é um ambiente inóspito para o fungo. Essa planta tem um sistema de defesa adaptado para a condição da ilha. Essas duas comunidades diferentes tiveram que se adaptar ao ambiente, à planta e ao solo. Por isso, eles têm metabolismos diferentes e podem produzir substâncias que podem ajudar na busca de herbicidas" naturais", comentou. Conheça a Ilha da Trindade Arte/g1 LEIA TAMBÉM: PESQUISA: Como corais de Trindade viraram promessa de tratamento contra o câncer RESÍDUOS DE REDE DE PESCA: Pesquisadores descobrem rochas de plástico no arquipélago quase inabitado mais distante do litoral brasileiro ENTENDA: Ilha no ES celebra Ano Novo uma hora antes da maior parte do país Atualmente, as amostras coletadas na ilha são analisadas em um laboratório da universidade para identificar quais substâncias podem fazer parte da composição para a criação de um bioproduto para controle das pragas. A ideia é que, a partir do produto criado, ele possa ser compartilhado em plantações do Brasil e nos Estados Unidos. Essa é a segunda reportagem da série especial do g1, "Expedição Trindade". Na primeira você descobriu como espécies de corais ajudam uma pesquisa no combate ao câncer. Na reportagem deste sábado (11), você vai entender como o lixo vai parar na ilha, e no último conteúdo da série, vai conhecer como é a rotina de militares e pesquisadores que vivem no local. O que são pesticidas naturais? Plantas daninhas prejudicam as plantações porque muitas vezes competem com as culturas por água, luz e nutrientes, e também podem servir como hospedeiras para pragas e doenças. Com isso, parte da produção pode ser afetada, causando prejuízo para o proprietário. Para conseguir lidar com as "intrusas", muitas vezes os agricultores utilizam pesticidas para solucionar os problemas. Fungo existente em samambaias gigantes da Ilha da Trindade, Espírito Santo é analisado por pesquisadores da UFMG Ramon Porto/TV Gazeta Mas, dependendo do tipo do produto, eles podem contaminar o solo e atrapalhar a fertilidade e saúde da planta. Com isso, essas substâncias naturais conseguem acabar com as doenças das plantas, com baixa toxicidade, e sem prejudicar a lavoura. Nas alturas e ao lado de antigo vulcão Dois ambientes exóticos de Trindade despertaram a atenção do professor Luiz Henrique Rosa, logo na primeira visita que ele fez à ilha: a floresta de samambaia gigante e o solo avermelhado. "Depois disso, a gente fez alguns trabalhos pontuais e, desde 2022, nós começamos um trabalho mais intenso na Amazônia Azul e também incluindo o Arquipélago de Trindade e Martin Vaz. E aí foram outras coletas que foram realizadas. A gente trouxe mais material dessa planta e outros também para estudarmos", disse. Fungo existente em solo vermelho encontrado em ponto da Ilha da Trindade, Espírito Santo, é analisado por pesquisadores da UFMG Ramon Porto/TV Gazeta A partir disso, o professor começou a analisar fungos encontrados nesses dois ambientes, o primeiro deles a 640 metros de altitude. As árvores do gênero ciathea formam uma espécie de manto, e cobrem parte da ilha (veja fotos acima). "Quando eu vi essa floresta de samambaia, achei esse trabalho muito interessante. Por serem altas, as cabras não conseguiram comer e ela proliferou lá. Então, ela tem um isolamento geográfico do continente em comparação a samambaias gigantes aqui no território brasileiro, no continente. Então, ela é uma espécie única e que pode conter várias substâncias, organismos associados que podem ser únicos também para desenvolvimento de bioprodutos", destacou. Após as coletas, os cientistas buscam entender se o material coletado na samambaia só existe em Trindade. "Nós começamos uma pesquisa para identificar os fungos que vivem dentro da ciathea, porque, às vezes, o fungo pode produzir um bolor que cresce lá dentro da planta. Ou, em outras vezes, é o fungo que produz a substância que a planta apresenta de atividade. Alguns desses fungos podem ser endêmicos. A gente não sabe ainda se ocorre só na ilha. Então, estamos estudando. A maior parte são cosmopolitas, ou seja, eles ocorrem em vários ambientes. Só que, mesmo sendo fungos que ocorrem em vários ambientes, às vezes os que ocorrem, lá por estarem isolados geograficamente do continente, podem ser de linhagens diferentes, únicas, que a gente não encontra em outros locais", disse. Ilha da Trindade, Espírito Santo abrigou o vulcão mais novo do país, e solo vermelho é estudado para utilização de pesticidas naturais Ramon Porto/TV Gazeta Já o outro fungo surge em um terreno que fica em uma das pontas da ilha, no solo avermelhado. Para o professor, tudo indica que são materiais diferentes, mas ambos com potenciais de pesticida natural. "A ilha foi formada por uma série de erupções vulcânicas e ali tem um solo que é único, não tem em outro local do planeta. Então, os fungos também ocorrem nesses ambientes de solo. Nós coletamos esses solos únicos e estamos isolando esses fungos também para ver se eles produzem as substâncias bioativas. São vários substratos, né? As plantas, as rochas, os diferentes tipos de solo para obter a maior quantidade de fungos possíveis e detectar substâncias", destacou. Próximos passos Após a identificação dos fungos, os pesquisadores estão trabalhando em como as substâncias podem ser utilizadas nas lavouras, e o foco é que o produto disponibilizado possa ser utilizado principalmente em lavouras de café, soja, algodão e milho. "Tendo o fungo ativo selecionado, a gente consegue crescer ele em fermentadores enormes para produzir muito dessa substância. E aí, se a substância for promissora, a gente consegue pegar esse extrato numa quantidade maior e pulverizar ali em um solo e inibir o crescimento dessas ervas daninhas, favorecendo a saúde das plantas. As plantas de interesse econômico são as que o agronegócio brasileiro tem mais interesse, né? Não tem restrição, porque se a substância for apresentar um espectro bom, um amplo espectro, consegue inibir essas ervas as daninhas e não inibir as plantas de interesse econômico", completou. Agora amostras de fungos coletados nas samambaias gigantes e em solo vermelho da Ilha da Trindade são analisados em laboratórios da UFMG Reprodução/TV Globo O apoio do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos se dá a partir da identificação das substâncias, já que o setor é especialista na parte química. "A ciência não tem fronteira, né? Nós já temos uma parceria de longa data com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, uma parceria já de longa, longa data. Os países são colaboradores e, se gerar um bio-produto, ele vai ser partilhado entre o Brasil e o Estados Unidos", disse. Professor de microbiologia da UFMG, Luiz Henrique, na Ilha da Trindade, Espírito Santo Acervo pessoal Fungos de solo vermelho e samambaia gigante na Ilha da Trindade, Espírito Santo são analisados para utilização como pesticidas naturais Ramon Porto/TV Gazeta VÍDEOS: tudo sobre o Espírito Santo Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo

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